Publicada: 21/05/2018
segunda-feira, 21 de maio de 2018
Fonte: Professor Dr. Marcos Fava Neves
O mês de abril não foi muito bom ao agro. A maldade principal foi a chuva que sumiu e fez perdermos bilhões de reais, principalmente no milho segunda-safra e na cana, mas sem esquecer da laranja e outras culturas também afetadas. Houve deterioração do quadro econômico, com as estimativas todas ficando ligeiramente piores, desde o crescimento econômico até redução da taxa de juros. Tivemos também um “chicote cambial”, devido à valorização dólar (leitura de aumento da taxa de juros nos EUA) e instabilidades na política mundial e também na brasileira, o que é ruim para os processos de planejamento, mesmo que represente preços em reais melhores no curtíssimo prazo às nossas commodities.
Além disto, a Argentina passa por forte instabilidade, e isto não é bom pois nos 12 meses passados tivemos um saldo comercial de US$ 8 bilhões, principalmente de bens manufaturados. Esta instabilidade fez com que a queda da taxa Selic tenha sido postergada, ruim para o agro.
A nova estimativa da CONAB (oitava) traz produção esperada de 232,6 milhões de toneladas (2,1% menor que a safra anterior) mas ainda 1,3% maior que a última previsão. O algodão melhorou e a soja também, agora são esperadas 117 milhões de toneladas, praticamente garantidas, mas no milho ainda esperam 89 milhões de toneladas. Estranhei, acho que as perdas de abril não estão ainda bem colocadas, aposto em queda maior da produção de milho.
O novo valor bruto da produção (VBP) do MAPA está em R$ 542 bilhões, praticamente R$ 12 bilhões maior que o previsto em abril, efeito das maiores quantidades e preços em reais, mas ainda é 2,4% menor que o valor de 2017. Somente na soja são esperados R$ 130 bilhões, o maior faturamento já visto. Serão R$ 366,2 bilhões nas lavouras e R$ 175,8 bilhões nas carnes. Este valor pode ter viés de alta pois mesmo a perda na produção em volume será compensada por preços melhores em grãos, mas nas carnes devem puxar para baixo.
As exportações do agro neste abril foram boas, de US$ 8,89 bilhões (2,7% acima de abril de 2017) e retirando-se as importações de US$ 1,3 bilhão, ficou um superávit 6,8% maior, de US$ 7,59 bilhões. O complexo florestal foi o destaque, com 10% a mais. Fechamos o primeiro quadrimestre 4,4% acima de 2017, vendendo US$ 30,47 bilhões, graças ao aumento de 5,6% nas quantidades e queda de 1,1% nos preços em dólar. Importamos 1,4% a mais (US$ 4,91 bilhões) o que dá um saldo de US$ 25,56 bilhões. O agro foi responsável por 41% das exportações brasileiras.
Em relação aos preços internacionais, praticamente nenhuma variação. O índice mundial dos preços das commodities alimentares (índice da FAO) ficou em 173,5 pontos, praticamente o mesmo valor do mês passado. Cereais subiram um pouco (1,7%) e os lácteos também (3,4%). Os açúcares caíram quase 5%, óleos vegetais caíram 1,4% e carnes caíram 0,9%. Mas quando comparado a março do ano passado, os preços estão 2,7% maiores em dólar. E devem ficar assim ou subir um pouco, pois a estimativa do USDA lançada em 10 de maio mostra áreas plantadas nos “belts” americanos de soja e milho um pouco menores (bem pouco, mas menores).
A oferta de milho nos EUA estará bem ajustada ao consumo, e qualquer evento climático trará forte alteração no mercado. Estamos num momento onde a demanda vai superar a oferta e estoques serão consumidos, o que dá uma tendência de no mínimo manutenção de preços em USD e melhores em reais, devido ao câmbio. Vale lembrar que comparando a esta época do ano passado os preços do milho estão quase 50% acima e da soja 27%. Então, agora nosso fato principal é observar o efeito da seca no milho brasileiro da segunda-safra e o comportamento do clima na safra dos EUA, qualquer problema será grande problema.
Entre as notícias empresariais, para que tenhamos ideias de valores, destaco um caso muito interessante de marketing, a Nestlé está fechando os direitos de usar a marca Starbucks para cafés e chás, por US$ 7,15 bilhões. A empresa com isto sobe um andar tendo uma marca posicionada ao segmento mais premium, além da Nescafé e Nespresso e aumentar sua participação no canal varejista dos EUA e em outros países. Estima-se que Nescafé venda ao redor de US$ 10 bilhões/ano, Nespresso US$ 5 bilhões e Starbucks US$ 2 bilhões (no varejo, sem as lojas de café). A Starbucks em varejo passa a vender cafés da Nestlé, mas nas cafeterias o negócio é independente.
Finalizando o mês, são boas as notícias em relação às exportações e volumes, porém pioraram na economia e ainda não temos claro o desastroso clima de abril e início de maio, que deve tirar produção e renda. Isto não poderia acontecer, pois a oferta de milho estava ajustada e teremos problemas no custo da ração animal, para agravar a já difícil situação de produtores de suínos e aves que têm preços de 10 a 20% menores que os de abril passado. Soma-se a isto a preocupação com os preços do petróleo em escalada e o câmbio, que ao fechar esta análise já namorava o 3,72. Como sempre dou ao leitor a minha aposta, acho que o Real pode até se desvalorizar um pouco mais, mas volta para 3,40 até o final do ano. Aos preços atuais em reais, eu venderia uma parte da minha produção futura para garantir.
Marcos Fava Neves é Professor Titular (tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo. Especialista em planejamento estratégico do agronegócio (favaneves@gmail.com).
Foto: Assuvap/ MG