Publicada: 16/08/2016
terça-feira, 16 de agosto de 2016
Fonte: Agrolink
O otimismo com o bom andamento da safra 2016/17, bem como a perspectiva de melhores preços e lucratividade, podem ser “dramaticamente comprometidos pela falta de dinheiro para financiar a aquisição de estoques, tanto por parte dos agricultores que quiserem vender só mais tarde, quanto pelas cooperativas e cerealistas para comprarem produto, como pelos moinhos”. O alerta é do analista sênior da Consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco.
“Há uma grande falta de dinheiro destinado a investimentos hoje no mercado brasileiro. Quem tem não está aplicando, porque não tem confiança. Nem nas atuais regras (as alterações políticas não permitem garantir contratos), nem nas instituições (alguns bancos oficiais estão sabidamente sem dinheiro e só não vão à falência porque são garantidos pelo Governo Federal e grandes somas de dinheiro emprestadas a empresas enroladas na Lava Jato estão comprometendo a saúde financeira de alguns bancos particulares e oficiais)”, explica.
Segundo Pacheco, o pouco dinheiro disponível para empréstimo está sendo oferecido ao mercado a juros de 3,8% ao mês. “Mas, como tomá-lo se o lucro da maioria das empresas não passa de 1,8% ao ano até no máximo 3% ao ano? Onde a cerealista, a cooperativa e o moinho irão buscar dinheiro para comprar toda a (grande) safra de trigo 2016/17 nos três meses que vão de setembro a dezembro para usá-la durante o próximo ano até o mês de agosto/17? Não existe ou é caríssimo”, ressalta.
O especialista aponta alguns cenários possíveis para os próximos meses: “a) os compradores imediatos (cerealistas e cooperativas) só irão comprar quando conseguirem vender um lote e na quantidade em que conseguirem vender; b) os moinhos (compradores finais) só irão comprar trigo na medida em que venderem farinha (e receberem, por isso a tendência é venderem o mais possível à vista, mas, para isto, terão que dar descontos, que serão repassados na compra do grão); c) além disso, os moinhos, com toda certeza, oferecerão preços um pouco menores do que o possível, dada a pressão da oferta e de venda que sofrerão nos três meses entre a colheita e o pagamento das obrigações junto aos bancos ou às empresas que venderam adubos e insumos”.
“Duas das sugestões de como conseguir dinheiro vem do exterior: a) ou pela exportação direta de trigo, realizando operações de antecipação de receita; b) ou pela simples e pura operação de empréstimo no exterior, onde os juros são irrisórios e os prazos mais longos. São operações perfeitamente possíveis e dependem apenas de fazer contas e de consultar o seu banco, mas sugerimos que se fale diretamente com as filiais destes bancos no Brasil (como Rabobank, por exemplo). Uma terceira fonte importante de recursos poderá ser a importação: os lotes comprados no exterior (por exemplo, trigo para moagem ou trigo para ração) tem 365 dias para serem pagos (veja com seu banco), mas isto prejudica o agricultor brasileiro”, conclui o analista da T&F.