Publicada: 14/09/2016
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
Fonte: Zero Hora
Tratores autônomos, que funcionam sem operador no veículo, não são uma realidade tão distante no campo. A possibilidade, que parece futurista, já existe em forma de protótipo e tem boas chances de ser vista em ação nas lavouras brasileiras nos próximos anos, se tornando um marco no avanço da chamada agricultura 4.0.
O conceito, caracterizado pela conectividade entre as máquinas, promete ser a próxima revolução no mundo do agronegócio, após os progressos em biotecnologia e nas técnicas de precisão. Perseguindo maior eficiência e produtividade, a agricultura mundial embarca na onda da internet das coisas e acelera para ser cada vez mais digital, interligada e usuária do big data. De casa, ou da sede da fazenda, produtores conseguem acompanhar remotamente, pelo computador, tablet ou smartphone, o desempenho de suas máquinas nas lavouras por telemetria, a transmissão automática de dados via sinal de telefonia celular. De olho no potencial que a agricultura tem na adoção de tecnologia digital, as grandes fabricantes de máquinas agrícolas promovem uma verdadeira corrida pelo desenvolvimento de melhores produtos e serviços.
— Com a telemetria, é possível avaliar a performance, a velocidade das máquinas, se as marchas estão corretas, o que permite orientar o operador para um desempenho mais eficiente. Velocidade correta significa redução do uso de combustível. Os sistemas também podem emitir sinais de desgaste da máquina, evitando que ela entre em colapso — explica Daniel Zacher, diretor da seção de Porto Alegre da SAE Brasil, entidade internacional que congrega engenheiros e executivos da área e que durante a Expointer realizou um simpósio sobre o tema na Capital.
Nas máquinas agrícolas, a era anterior foi da agregação de eletrônica embarcada e do uso do piloto automático. Agora, abre-se a possibilidade de tomada de decisões à distância pelo monitoramento do desempenho da frota, permitindo maior qualidade em etapas como plantio, pulverização, irrigação e colheita por meio do acompanhamento instantâneo de toda a complexidade da operação. Há ainda a possibilidade de gerar e analisar uma infinidade de dados que também são emitidos pelas máquinas interconectadas e, analisados, se transformam em eficiência ainda maior nas safras seguintes. Pela frente, há possibilidade de o maquinário trabalhar 24 horas por dia.
A pesquisadora Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, avalia que a nova era cibernética, após transformar a realidade e o modo de trabalho em setores como financeiro e indústria, avança no campo, seja em softwares embarcados, emissão de dados sobre clima, sistemas de alerta para doenças e aplicativos para dispositivos móveis.
— Cada vez mais percebemos ascensão do mundo digital na agricultura. As tecnologias disruptivas surgem para facilitar e melhorar a eficiência dos processos, em busca de ganhos de produtividade — considera Silvia.
Para Zacher, até o início da próxima década, principalmente nas grandes áreas planas do Centro Oeste do país, será possível testemunhar tratores comandados de forma remota. Depois, chegará a época de pulverizadores e colheitadeiras trabalharem sem operador na cabine. Será uma solução, por exemplo, para problemas como falta de mão de obra nestas regiões, e ainda vai criar demanda para empregos mais qualificados.
Outro desafio no futuro, avalia o especialista, é fazer com que a vanguarda digital também chegue à agricultura familiar, elevando assim a produtividade média da agropecuária nacional. Afinal, a inovação, cada vez mais, é um insumo indispensável no campo.