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Publicada: 20/03/2014

Setor produtivo do milho teme desabastecimento interno com possível aumento das exportações

quinta-feira, 20 de março de 2014

Os preços internacionais do milho podem subir ainda mais neste ano. Grandes exportadores devem reduzir as vendas externas. Para evitar qualquer risco de desabastecimento no mercado nacional, o setor produtivo pede para que o governo ofereça políticas que garantam a oferta do produto no Brasil.

A estiagem já comprometeu a safra brasileira de milho. Ao contrário dos 81 milhões de toneladas do ciclo anterior, a previsão é de que a colheita deste ano não ultrapasse 75 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). Até o cultivo do milho de segunda safra começou atrasado devido à chuva.

Governo e mercado estimam que as exportações alcancem 19,5 milhões de toneladas este ano, contra 26 milhões de toneladas em 2013. Os preços internacionais, no entanto, estão atrativos. Os Estados Unidos anunciaram que plantarão menos milho para priorizar a soja. Além disso, outro grande produtor mundial tem o futuro incerto.

A instabilidade política na Ucrânia, que está entre os maiores exportadores de milho do mundo, pode provocar o aumento do preço da commodity agrícola no comércio internacional. Hoje, o preço do grão está cotado em US$ 200 a tonelada. Para evitar que as exportações fiquem atrativas a ponto de provocar desabastecimento no mercado interno, o setor sugere que o governo adote medidas que garantam a oferta de milho no Brasil.

– Nós vamos ter safra de no mínimo 8 milhões de toneladas inferior a do ano anterior. Com isso, se repetirmos volumes de exportação do ano passado, ficaremos com estoques quase que zerados. É fundamental que haja mecanismos para garantir abastecimento interno, criando uma espécie de prêmios – afirma o presidente da Câmara Setorial do Milho, Odacir Klein.

A Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Milho e Sorgo, que ocorreu nesta quarta, dia 19, discutiu o assunto. Com os preços internacionais em alta, o mercado mantém a previsão de que o Brasil terá um estoque de passagem de 10 milhões de toneladas.

– O problema do milho é logístico, uma vez que a gente tem uma produção muito elevada em algumas regiões como Mato Grosso, Centro-Oeste e Sul. A gente tem que trabalhar muito essa questão no panorama da Conab, para poder levar esse milho para os produtores na Região Norte e Nordeste – diz o assessor técnico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) Leonardo Machado.

Nesta semana, o governo federal já publicou uma portaria autorizando o deslocamento de 500 mil toneladas de milho por meio da venda de estoque público com subvenção econômica.

– Se for necessário, a gente tem condição de fazer essa questão através de instrumentos como o VEP [Valor de Escoamento de Produto], a gente pode atender não só o Nordeste como pode atender o Sul. Quando tiver um momento de desabastecimento ou uma especulação exagerada de preço, a Conab pode intervir através do seu instrumento VEP – diz o analista de milho da Conab, Thomé Guth.

A crise envolvendo Rússia e Ucrânia pode ajudar o Brasil a acessar mais rapidamente o mercado asiático de milho, uma das prioridades do novo ministro de Agricultura, Neri Geller.

Durante a reunião desta quarta, técnicos da Conab e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) disseram que se a crise na Crimeia ameaçar as exportações ucranianas, o milho brasileiro ganharia terreno especialmente na Coreia do Sul e no Japão.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos projetou as exportações de milho da Ucrânia em 2013/2014 em 18,5 milhões de toneladas e da Federação Russa em 21,84 milhões de toneladas. Para o Brasil, o governo norte-americano aponta vendas externas de 20 milhões de toneladas.

– Se houver algum problema (na exportação ucraniana) há uma chance muito forte do Brasil suprir essa demanda – afirmou Thomé Guth.

Apesar da sinalização de que o governo poderá ofertar estoques de milho para atender criadores de aves e suínos com dificuldades de abastecimento, o Ministério da Agricultura não pretende colocar o produto no mercado enquanto o Rio Grande do Sul e Santa Catarina estiverem colhendo suas safras.

Guth destacou que a estatal avalia que a produção dos dois Estados, em andamento, deva diminuir a pressão da demanda. Mas ele admitiu que a região Sul poderá ser a primeira a receber milho do governo se a cotação do cereal, hoje na faixa dos R$ 26 a saca ao produtor gaúcho, não ceder.

Nos leilões de venda de estoques públicos, o produto costuma ser ofertado ao preço mínimo, que no caso do milho dos Estados do Sul está fixado em R$ 17,67/saca na safra 2013/2014.

Sobre a recomposição dos estoques públicos em 2014, Guth prevê que as operações da Conab serão limitadas, já que os preços remuneradores ao produtor reduzirão a necessidade de apoio do governo.
– Acho que neste ano dificilmente a gente consiga comprar, porque o preço está acima do preço mínimo – avaliou.
– Muita gente começou a plantar fora da janela e isso pode apertar a oferta e a demanda – ressaltou Machado.
FONTE: Rural BR