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Publicada: 13/05/2014

Manejo da matéria orgânica do solo: fator de sucesso para o produtor rural

terça-feira, 13 de maio de 2014

 Bem, quão difícil é entender a matéria orgânica do solo? Será que não podemos simplificar essa estória? Quanto precisamos entender para que possamos fazer o seu adequado manejo, tirando o máximo proveito de suas características benéficas? Para responder essas questões, vou dividir nossa conversa em três tópicos:

- Afinal, o que é a matéria orgânica do solo?;
- Para que serve?;
- Como manejá-la?

Matéria orgânica do solo (MOS) representa todo o material orgânico presente no solo, podendo ser ele resíduos de plantas, animais ou microrganismos em diversos estágios de decomposição, materiais com alto grau de decomposição, ligados ou não à fração mineral, ou mesmo materiais carbonizados. Outra parte a ser destacada são os organismos do solo, compostos por fungos, bactérias, actinomicetos, protozoários, minhocas, insetos, aracnídeos etc. O importante é entender que o que é orgânico teve origem primária na fotossíntese, podendo ter sido incorporado nos tecidos de outros organismos na cadeia trófica, mas que entra no solo como resíduo orgânico, o qual inicia (desde que tenha condições ambientais adequadas) imediatamente o processo de decomposição. Os organismos do solo encarregam-se desse processo. Utilizam os materiais orgânicos como fonte de energia e de nutrientes para o seu desenvolvimento. A matéria orgânica é, portanto, o combustível para a ação dos organismos do solo!

A próxima pergunta seria 'para que serve?'. Em outras palavras, qual sua função nos solos? A matéria orgânica está envolvida nos mais diversos processos físicos e químicos do solo, os quais, por sua vez, são dependentes da ação dos organismos do solo. Na estruturação, por exemplo, a MOS está envolvida em fases distintas. Primeiramente, são importantes estabilizadores de complexos organo-minerais (ligação de matéria orgânica com as argilas do solo), que compõem os “tijolos“ que serão juntados uns aos outros formando os agregados do solo. Em um segundo nível de agregação, materiais orgânico produzidos em sua maioria pelos microrganismos decompositores (polissacarídeos ou gomas) servem de agentes ligantes entre as partículas do solo, formando e estabilizando os agregados. Como esses componentes têm vida útil curta no solo (são formados e decompostos em dias ou meses), o seu suprimento deve ser constante, ou seja, quanto maior e mais constante a atividade biológica do solo, mais provável de se ter uma melhor agregação. A melhor agregação gera estruturas mais estáveis, com maior presença de poros, melhor aeração e infiltração de água. Isso significa que a água tende a entrar no solo, reduzindo o escorrimento superficial e os consequentes processos erosivos.

Além disso, a matéria orgânica em avançado grau de decomposição (substâncias húmicas), ou mesmo fragmentos de carvão pequenos e parcialmente decompostos, apresenta elevada densidade de cargas. A MOS pode ter um capacidade de troca de cátions (CTC) de até 800 cmolc dm-3, enquanto as argilas predominantes nos solos brasileiros têm CTC entre 5 e 15 cmolc dm-3!! Trabalhos em solos de cerrado já comprovaram que a MOS é responsável por mais de 85% da CTC do solo, ou seja, da sua capacidade de reter nutrientes à disposição das plantas. É, portanto, fundamental para manter a fertilidade dos solos brasileiros! Há ainda a interferência na complexação de alumínio, bloqueio de sítios de adsorção de fósforo e formação de quelatos com micronutrientes. Aspectos esses que melhoram as condições químicas do solo para o desenvolvimento das plantas.

Bem, então, como manejá-la? Simples, coloque o máximo de matéria orgânica que conseguir em seu solo e tente evitar que ela se decomponha rápido demais! Começando pelo final, para reduzir a taxa de perda de MOS e até promover o seu aumento, a principal estratégia é adotar o sistema de plantio direto. No sistema convencional (com arações e gradagens), o revolvimento do solo e a incorporação dos resíduos na chamada camada arável aumentam a taxa de decomposição, sendo os resíduos consumidos muito rapidamente. No plantio direto, os resíduos ficam na superfície do solo e tem uma taxa mais lenta de decomposição.

Uma vez adotado o sistema plantio direto, o aumento na quantidade de resíduos produzidos no sistema de rotação ou sucessão de culturas irá favorecer o acúmulo de MOS. A introdução do milho na safrinha e, mais recentemente, o milho consorciado com capins têm aumentado o aporte de resíduos para o sistema, gerando condições adequadas para o acúmulo de MOS. Sistemas integrados, nos quais ciclos de lavouras são intercalados com dois ou três anos de pastagens, também aumentam muito o aporte de resíduos, contribuindo para a construção de níveis mais elevados de MOS. Além da quantidade de carbono sendo inserida no sistema, estudos recentes têm ressaltado a necessidade de um balanço positivo de nitrogênio no sistema de produção para que se tenha acúmulo da MOS.

Enfim, embora sua composição e reações no solo sejam bastante complexas, não há mistérios em entender a importância da matéria orgânica para o bom funcionamento dos solos. O seu manejo adequado passa por reduzir as saídas e aumentar as entradas, o que vem sendo conseguido com o sistema plantio direto e a inclusão do consórcio milho com capins e os sistemas integrados. O adequado manejo da MOS representa uma das práticas mais importantes para a manutenção de níveis crescentes de produtividade das culturas.
Fonte: Foco Rural